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Murrinha

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Um estimado, muito querido amigo, de vivência múltipla e impressões tantas mais pela capacidade de observação e perspicácia em leituras até atípicas das circunstâncias mundanas do que pela idade, certa feita, sem pretensão maior que a de dourar com risadas uma conversa frugal à beira da churrasqueira, sentenciou uma das que, para mim, representa verdade típica.

Disse o "Cavalinho" (essa é a renomada alcunha pela qual atende mais do que pelo nome de batismo): "o chato é aquele cara que anda mais com a gente do que a gente com ele".

Ao dizê-lo, trouxe à luz definição simples, tanto quanto objetiva, da espécie de indivíduo que todo o mundo foi, é, ou, tenho certeza, aturou um dia. O chato é um inevitável. Em nós ou em outrem, o encontraremos e não há o que se possa fazer a respeito.

Sua detecção, ou identificação, se dão diante daquela conhecida sensação de amolação que causada por seus atos ou palavras nas mais diversas situações do cotidiano. Isto quando estamos diante de um chato ordinário, pois os especiais têm a capacidade e o talento de chatear tão somente com sua presença. Até parece que foram treinados, instruídos e lapidados para a atividade, tamanha a sua eficiência.

Eles, contemporaneamente, parece-me que embora não estejam se multiplicando muito (apenas um pouquinho) estão se dividindo em gêneros, a exemplo daquele que, cá com meu botões, tenho pelo murrinha.

Ao contrário do chato genérico, geral, que vai do gente boa, passando pelo mala e tantas outras qualificações subjetivas, pode-se perceber como um dos principais atributos da espécie do chato do gênero murrinha a intransigência. Não há como confundir-se: o murrinha é muito murrinha mesmo.

Atente, leitor observador, para a sua desenvolvida rejeição a fatos inegáveis, que podem se manifestar pela dissimulada (não ignorada, pois ele sabe, só não quer aceitar) negação de verdades. Sua contundente intransigência se manifesta, sobremaneira, pela intolerância auricular que, na fase infantil era respondida com as mãos tampando os ouvidos e na fase adulta se apresenta pelo aumento, ao máximo atingível, do volume da voz.

Ao se dispor à leitura, o que é raro nos portadores da murrinhice, o faz somente em atenção àqueles que escrevem o que ele quer ler, ainda que fake news o que, mesmo assim, lhe serve de argumento. Caso emparedado, não se surpreenda, pois ele, quem sabe aos gritos, responderá a uma pergunta com outra pergunta, além da troca fugidia do tema da interlocução para alguma coisa que ele julgue ser do seu domínio.

Ao murrinha, acautele-se, não interessa a construção, a realidade ou sugestão de soluções. Sua intenção é unicamente vencer o que ele acha ser um debate.

Não o procure, ele o encontrará. O ambiente onde mais se sente confortável é na radicalização, de esquerda ou de direita, onde pululam, defendendo o indefensável desde que seja da sua corrente, sendo irrelevante o tamanho da barbaridade feita pelos seus ídolos políticos idos ou presentes.

Não é necessário rechaçar, fugir ou evitar os murrinhas, que podem ser curados com estudo, leitura qualificada, sobretudo histórica, com doses de boa educação (aquilo que os antigos nos exortavam advertindo: "olha os modos"). Não causam grandes danos, senão à própria causa, sendo, por isso, evitados até por seus correligionários racionais.

Requerem apenas um pouquinho de paciência. São apenas mais um tipo de chatos.

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